quinta-feira, abril 17, 2014

Por que Eduardo Campos se mudou para São Paulo

Após oficializar pré-candidatura a presidente, o ex-governador de Pernambuco deixou o seu Estado como parte da estratégia para ganhar votos no maior colégio eleitoral do país

ALBERTO BOMBIG
NA ESTRADA Eduardo Campos. Ele quer conquistar um eleitor que gosta de candidatos caseiros (Foto: Clemilson Campos/JC Imagem/Folhapress)
Eleições 2014 (Foto: reprodução)A tradicional família Arraes está representada em São Paulo por uma ponte no bairro da Penha e por uma escola encravada na favela de Paraisópolis. Ambas se chamam Miguel Arraes, em homenagem ao advogado e economista que se tornou um dos principais líderes políticos do Nordeste no século XX. A ligação dos Arraes com São Paulo não vai muito além disso. A partir desta semana, a família estreita significativamente seus laços com os moradores da metrópole. Eduardo Campos, pré-candidato a presidente pelo PSB, passa a morar num pequeno apartamento em São Paulo, perto do aeroporto de Congonhas.
Campos é neto de Arraes e seu herdeiro político. Ele entregou o cargo de governador de Pernambuco, que ocupou por sete anos e três meses, na sex­ta-feira, dia 4. Deixou a chave do Palácio das Princesas com o vice, João Lyra. Depois de passar uma semana descansando com a mulher, Renata, e com os cinco filhos do casal, Campos espera oficializou a pré-candidatura a presidente na segunda-feira (13), em Brasília. Logo depois, se mudou para São Paulo. Num primeiro momento, sozinho. Depois, levará a família inteira.
A decisão de mudar a base eleitoral para São Paulo foi estratégica. Além de ser o maior colégio eleitoral do Brasil, São Paulo é um desafio para o PSB. O Estado, berço do PT, é governado pelo PSDB desde 1995, quando a polarização entre petistas e tucanos começou a aumentar nas disputas eleitorais. Segundo os cálculos do PSB, Campos terá de quebrar essa polarização em São Paulo se quiser chegar ao segundo turno. Portanto, é natural que ele concentre suas agendas e algumas ações de campanha em São Paulo, onde vivem 22% do eleitorado.
Campos procura também um local na capital paulista onde possa montar um estúdio para gravar os programas do horário eleitoral gratuito. Existe até a possibilidade de, num segundo momento, ele se mudar para uma casa maior, onde essa estrutura possa ser montada. Campos e família morariam, assim, dentro do próprio Q.G. eleitoral. Em São Paulo, o PSB também cogita montar o centro responsável pela campanha na internet. A Rede, o partido deMarina Silva coligado a Campos, mantém seus serviços de mídia digital na capital paulista. Toda essa estrutura deverá ser administrada por um pool de marqueteiros, já que Campos não pretende escolher um único nome para a função. No esforço para conquistar São Paulo, ele não pretende descuidar de sua base – o Nordeste. Quer visitar a região a cada 15 dias, pelo menos.
O Sudeste e o Sul são os redutos a conquistar. Nas últimas eleições, Dilma Rousseff perdeu no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Isso significa que esses Estados podem pender para quem apresentar a melhor proposta oposicionista. Para Campos, morar perto do aeroporto de Congonhas fará diferença. Ao lado de Marina, ele planeja percorrer os maiores colégios eleitorais do país. A maior parte dessas cidades fica nas regiões Sudeste e Sul, onde a presença do PSB também é menor se comparada à força do partido no Nordeste.
Marina será a encarregada, segundo o PSB, de “apresentar Campos” aos eleitores do Sul e do Sudeste, onde ela foi bem votada em 2010. Ela será especialmente importante para conquistar um eleitor mais à esquerda, que costumava votar no PT, mas se desiludiu após os inúmeros casos de corrupção envolvendo o partido. A dupla fará críticas à capacidade de Dilma Rousseff como gestora (um assunto caro a Marina, que saiu do governo ao divergir dela) e à crise daPetrobras. “Não há como não tocar nesse assunto”, diz o deputado Beto Albuquerque (PS­B-RS). Campos tem batido no tema em suas aparições públicas, e o assunto também foi abordado, há duas semanas, no programa de TV em que Campos e Marina apareceram juntos. Os dois buscam afinar o discurso. A coordenação da campanha será a quatro mãos, com uma dupla formada por um integrante do PSB e outro da Rede. A coordenação executiva será dividida entre Carlos Siqueira, pelo PSB, e Bazileu Margarido, pela Rede.
Esta será a primeira eleição, desde a redemocratização, em que nenhum dos principais candidatos fez carreira em São Paulo. As outras mostraram que o eleitor paulista gosta de nomes caseiros. Na eleição de 1989, Paulo Maluf teve votação expressiva no primeiro turno – perdeu por décimos para Fernando Collor de Mello. No segundo, apoiou Collor, e esse apoio foi decisivo para a vitória dele. Nas eleições seguintes, venceram Fernando Henrique Cardoso e Lula – dois políticos com carreira construída em São Paulo, que começaram a carreira juntos, distribuindo panfletos em greves no ABC. Em 2010, Dilma ganhou – mas, em São Paulo, a vitória foi de José Serra, paulistano nascido no bairro da Mooca e torcedor do Palmeiras. Campos, pernambucano e torcedor do Náutico, quer herdar esse eleitor caseiro. Ele sabe que cruzar a esquina da Ipiranga com a Avenida São João pode ser um atalho decisivo para chegar ao endereço mais cobiçado pelos políticos – o Palácio do Planalto

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